sexta-feira, 23 de março de 2012

Uma imagem em que pode relatar sobre a importância de levar um pouco de alegria à aqueles que estão necessitando.

Grupo de Contadores Invade o Hospital do Oeste

Barreiras: Grupo de Contadores Invade o Hospital do Oeste.


Rosto pintado, perucas coloridas, roupas estampadas, nariz de palhaço, fantoches e outros adereços, é assim que os acadêmicos do curso de Letras da UNEB da turma de 2008 se preparam para entrar em cena como Contadores de Histórias no projeto Era Uma vez no hospital. O público é constituído de crianças internadas na Clínica Pediátrica do Hospital do Oeste e seus acompanhantes que esperam com grande expectativa a performance do grupo.
A turma de Contadores é composta por dezessete acadêmicos que se desdobram em três grupos, dois destes se alternam nas atividades voltadas ao entretenimento tais como: apresentações teatrais, contação de histórias e projeção de filmes infantis de cunho educativo. O terceiro grupo de pesquisa e divulgação por sua vez, se encarrega de ajudar os demais colegas na arrumação do cenário, no convite aos pais e às crianças para assistirem às apresentações, fazem ainda uma coleta prévia de dados que serve de apoio para nortear e desenvolver o projeto. Posteriormente, se encarregam de divulgar as principais ações na mídia local com o objetivo de mostrar a sociedade a importância das atividades realizadas. No final de cada apresentação, são distribuídos gratuitamente livros com histórias infantis para as crianças se entreterem e adquirirem conhecimentos de forma divertida e prazerosa. A meta do projeto é distribuir mais de trezentos livros de variados títulos e que foram adquiridos através de doações de pessoas físicas e empresários locais .
Criado pelas Professoras Maria Felícia e Vera Regiane, o projeto piloto foi primeiramente apresentado em creche, abrigo, orfanato e depois em hospital. Para a sua execução foram desenvolvidas observações prévias e constatou-se que o hospital se constituía como lugar mais carente em projetos desenvolvidos pelas Universidades. O projeto Era Uma vez no Hospital está em sua segunda fase, “de vento em popa” sendo desenvolvido na ala pediátrica do Hospital do Oeste. “ Esse projeto derruba a tese de que as crianças não gostam de ler, ao contrário elas ficam muito entusiasmadas com as histórias, há uma disputa pelos livros, eles querem adentrar nesse universo mágico da leitura” afirmou a professora Maria Felícia uma das idealizadoras e coordenadora do projeto.
O processo de tratamento de crianças enfermas costuma ser mais difícil, pois elas são mais vulneráveis e geralmente se sentem mais fragilizadas do que um adulto. Projetos dessa natureza ajudam a criança abrandar o sofrimento e amenizar a ansiedade de voltar logo para casa. Existe um vasto número de pesquisas científicas que garantem que o otimismo frente a doença pode acelerar o processo de convalescença para isso o sorriso é um excelente remédio. “Atividade como essa é muito importante porque as crianças só veem aqui a gente com bandeja de medicamentos, eu achei muito bonito o projeto, as brincadeiras, as crianças também gostam, elas ficam mais animadas” analisa Maria Helena uma das enfermeiras plantonistas.
Ao final da apresentação, os sorrisos se multiplicam. “Foi maravilhoso, trouxe mais alegria para esse ambiente fechado. Brincadeiras, palhaços, valeu a pena, gostei muito!” concluiu Valdicléia mãe de uma criança internada.
Com boa vontade e criatividade, o espaço Hospitalar pode ser um palco, um picadeiro, uma biblioteca, ou um teatro, afinal, o mundo da imaginação não tem fronteiras, é ilimitado, basta querer.
 
Professora Felícia fantasiada de borboleta: “Esse projeto derruba a tese de que as crianças não gostam de ler”
Enfermeira Maria Helena: “Achei muito bonito”
Valdicléia: “Gostei muito, valeu a pena!”
 
Texto: João Plácido (Acadêmico do curso de Letras, UNEB Campus IX Barreiras).

Os Saltimbancos

Os Saltimbancos

Arleide Cristini Silva da Câmara
Cáren Maiele Alves da Silva
Fabiana Fernandes de Oliveira

Ø  Considerações iniciais

O ato da contação de histórias é o início da aprendizagem; por isso a necessidade de ouvi-la; possibilita novos horizontes, novos olhares e conhecimento para quem as ouve (crianças). Mas esse fascínio tem sido deixado de lado, não é mais como antes onde os nossos pais, avós contavam para nós as histórias; permitindo através das mesmas, o imaginário da criança poder descobrir a fantasia, o misterioso, o bem, o mal...
Esse projeto visa de certa forma, realizar o resgate do contar histórias, reascendendo o desejo dos próprios pequeninos em querer ouvi-las. Por meio da contação de histórias podemos enriquecer as experiências infantis, desenvolvendo diversas formas de linguagem, ampliando o vocabulário, formando o caráter, desenvolvendo a confiança na força do bem proporcionando a criança viver o imaginário.
Essa importante ação educativa instiga à criança a busca de novos saberes e vários processo de leitura. É através da contação de histórias que as pessoas se autoidentificam e uma das vantagens dessa oralidade é a possibilidade de haver a participação não só do narrador como também dos ouvintes.
Nessa perspectiva as acadêmicas do curso de letras, turma 2008.1 apresentam uma história inspirada no conto dos irmãos Grimm “Os Músicos de Bremen e adaptado por Chico Buarque, o espetáculo infantil “Os Saltimbancos” que narra a história de quatro animais (um jumento, um cachorro, uma galinha e uma gata) que, devido a maus tratos, fugiram de seus patrões. Juntos decidem formar um grupo musical e vão à cidade para começar a carreira artística. Durante o trajeto, eles encontram os seus antigos donos e, com medo de serem novamente escravizados resolvem enfrentá-los. Os bichos vencem e chegam à conclusão de que unidos conseguirão superar todas as dificuldades.
A história “Os Saltimbancos” foi apresentada através de fantoches na creche Municipal Professora Tercina Pereira Alves no dia 09 de agosto de 2010. O público a assistir a mesma era composto por sessenta e oito crianças na faixa etária de zero a cinco anos de idade.

Ø  Relato das atividades

A apresentação da peça “Os saltimbancos” realizada na creche Professora Tercina Pereira Alves às nove horas da manhã foi de grande proveito. Conseguimos alcançar o nosso objetivo de resgatar “a contação de histórias” e enfatizar a sua importância.
Foram apenas cinco dias de ensaios e aproximadamente uma semana para a confecção dos fantoches. No dia oito de agosto passamos a manhã toda preparando o cenário para o dia seguinte. Quando o momento tão esperado chegou (09/08) o nervosismo estava a flor da pele pois era a primeira vez que iríamos apresentar um teatro de fantoches. Momentos antes de começarmos a apresentação foram passadas através de um DVD, som e TV músicas infantis para animarem as crianças, elas ficaram animadas e ansiosas para o início da peça. Quando chegou o momento de começar a historinha foi uma festa só, sentados em suas cadeiras os pequeninos prestaram bastante atenção nas falas dos animais (fantoches), batiam palmas no momento das músicas outros, porém que já estavam inquietos até porque a apresentação foi um pouco longa (aproximadamente quarenta minutos).
Não foi uma tarefa simples realizar este projeto, era preciso saber manipular os fantoches e de certa forma fazer a interação de uns com os outros, saber o momento certo de entrar, sair, falar, cantar enfim apesar da história vim pronta e narrada era preciso dublar e dublar bem já que a criança percebe logo de cara quando uma história não é bem contada. Todos estes aspectos nos remete à uma fala de Abramovich (1997, p.19) que diz “para contar uma história- seja ela qual for – é bom saber como se faz. Afinal nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes.”
A orientadora Felícia nos ajudou na organização; os pequeninos se interagiram tanto com a história, que no momento em que cada personagem falava eles chegavam perto dos bonecos, questionando-se entre si quem eram, porque os animais estavam falando, sendo que animal não fala; e sorriam, cantavam,enfim, acharam a história muito divertida.
Um dos objetivos deste projeto era resgatar a contação de histórias. Benjamim (1994 p.6) afirma que “a ate de narrar está morrendo”. Isso se deve ao fato da evolução da tecnologia que vem a cada dia substituindo a voz do contador por TVs, DVDs, etc. Precisamos através de projetos como esse levar uma história seja ela qual for às pessoas ao nosso redor. Os sorrisos estampados no rosto daquelas crianças nos incentivaram ainda mais à levar a Historia dos Saltimbancos a outros lugares, a outros públicos.
Outro ponto relevante que observamos momentos antes da apresentação foi que havia uma criança que conhecia não exatamente a história dos saltimbancos, mas sim a história de um burro (personagem da peça). Isso nos reflete a grande importância da literatura, em especial a infantil na vida de toda e qualquer criança. De acordo com Coelho (2000, p. 53) “literatura infantil são livros que tem a capacidade de provocar a emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o interesse da criançada”. Percebemos que as professoras daquele local liam, ou seja, contavam histórias infantis para aquelas crianças e isso nos deixou muito felizes.
Finalizando a apresentação, a professora Felícia perguntou às crianças se eles tinham gostado da historinha apresentada e elas responderam que sim, em seguida foram apresentados os bonecos e seus respectivos manipuladores (Arleide, Cáren Fabiana), e após feito isso as crianças puderam pegar nos fantoches e porem nas mãos, a alegria foi tamanha. Para concretizarmos nossa apresentação distribuímos balas para crianças e registramos através de vídeos e fotos aquele momento gratificante e deixamos passar músicas infantis até que desfizéssemos o cenário e colocávamos os itens emprestados (TV, DVD, dicionário, grampeador, mesas e cadeira) nos seus respectivos lugares, nos despedimos com a criançada pedindo para que não fossemos e por causa do horário de aula que teríamos
á tarde tivemos que ir. Com um sorriso estampado no rosto e com a sensação de dever cumprido fomos embora.
Feitos os agradecimentos, ficou algo muito bom tanto para nós, organizadores do projeto quanto para elas que nos receberam. O espaço ficou aberto para que possam vir outros, e o incentivo para que eles mesmos trabalhem com fantoches na contação de histórias, aumentando o valor perceptivo das crianças e para nós o reconhecimento de um esforço enorme e compensador, e ainda o convite aberto para retornarmos, entre outros que é abranger esse trabalho para que outros indivíduos tenham acesso a esse tipo de animação.

Ø  Considerações finais
Depois de muito esforço e dedicação conseguimos cumprir de fato a nossa missão como contadores de histórias. Apesar de ser a nossa primeira experiência com o público infantil não esperávamos tantos elogios.
Queremos através deste projeto despertar outros sorrisos em outros lugares com a nossa apresentação e acima de tudo incentivar outros indivíduos a não deixar morrer essa tradição de “contar” histórias enfatizando sempre a sua importância.


Ø Referências

ABROMOVICH, Fany. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. – São Paulo: Scipione, 1997. – (pensamento e ação no magistério).


BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 7 ed. São Paulo: Brasiliense,1994.

COELHO, Nelly. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.



AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente à orientadora Maria Felícia Romeiro Mota Silva por nos incentivar a realizar este projeto que foi de suma importância para nossa formação acadêmica e à diretora da creche Aldaci Pereira por nos conceder o espaço para a realização do mesmo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Contação de Histórias no Abrigo dos Idosos

Idelvânia Ferreira Amador
Joao Plácido da Silva Filho
Maria Lúcia Silva de Souza
Norma da Silveira Lopes
Wagner Araújo Novais



Contação de Histórias no Abrigo dos Idosos


1-INTRODUÇÃO:

A atividade de contar história está presente na cultura humana desde os tempos antigos, como; conhecimento, arte, prazer, atividade de lazer, que permite a manifestação lúdica levando o ouvinte para o mundo do sonho e da fantasia, nos permite ampliar nossos pontos de vista sobre a realidade, viver infinitas experiências e nos emocionar de diferentes maneiras.
O ato de contar histórias era uma das formas encontradas para passar os conhecimentos adquiridos de uma geração para outra. Visto que as histórias eram relatos de experiências que traziam lições a partir das quais os mais novos continuariam suas vivências, pode se dizer também que era uma forma de possibilitar uma continuidade na evolução humana.
Com o advento da escrita e o desenvolvimento tecnológico percebe-se uma grande diminuição do hábito de trocar experiências oralmente e uma predominância do desenvolvimento de outras formas de transmissão desses conhecimentos e configurando-se com a sociedade contemporânea, quando a escrita e oralidade se complementam na evolução do homem.
Assim, o desenvolvimento tecnológico e dos meios de comunicação convidam o narrador a buscar uma forma para lidar com o desenvolvimento natural do ser humano e percebe-se, então, uma nova manifestação desse personagem da cultura oral, que agora se forma para contar histórias.
Nota-se que aos poucos os momentos coletivos de trocas de experiências deixam de ser um acontecimento natural em nossa sociedade. Com as transformações e o desenvolvimento tecnológico os contadores foram aos poucos convivendo e encontrando novas formas de lidar com o processo natural de evolução da humanidade, assim, essa tradição juntamente com seus protagonistas “narradores, contadores” transforma e se modifica com o passar do tempo.
Por isso, o contador é o personagem principal na manutenção desse patrimônio, pois ao dar seu testemunho narrando uma história, ele da aos que ouvem a possibilidade de contá-la novamente e, assim permitir que essa cultura acompanhe as transformações humanas.
Esse processo de ressignificação, ao fazer-se presente no contador de histórias permite que a cultura popular seja valorizada e se mantenha na atualidade. Com esse intuito é que escolhemos o abrigo de idosos São João Batista  para a apresentação de nossos trabalhos. Onde foi apresentada em 30/08/10 às 14:40 h da tarde a peça Causos e Contos Caipira. Com o objetivo de reviver esta forma artística de comunicação no contexto da atualidade, para abrir novos horizontes e possibilitar a memória dos velhos tempos; motivar fantasias vividas por meio das imagens e emoções suscitadas no conto. Bem como proporcionar lazer e entretenimento aos idosos através da contação de histórias, fazendo com que a sua cultura seja valorizada e mantida na atualidade.

2- RELATOS
Foi apresentada peça, Causos e Contos Caipira para um de platéia de 12 idosos do abrigo São João Batista na cidade de Barreiras BA no dia 30/08/10 às 14:40 h da tarde pelos acadêmicos do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia; Idelvânia Ferreira Amador, João Plácido da Silva Filho, Maria Lúcia silva de Souza, Norma da Silveira Lopes, Vagner Araújo Novais,  que fazem parte do projeto Contadores de Histórias, sob orientação da professora Maria Felícia Romeiro Mota.
Na peça os acadêmicos dramatizaram de forma bem humorada o ato de contar histórias trazendo para o enredo causos e histórias do cotidiano caipira demonstrando de forma lúdica e divertida o quanto é prazeroso a contação de histórias e o quanto é importante à troca de experiências por meio dessa forma milenar de comunicação.

 A dramatização da peça.
De acordo com Cascudo (1952, p.249) apud Eduardo (2007, p. 12).“O conto popular revela informação histórica, etnográfica, sociológica, jurídica, social. É um documento vivo, denunciando costumes, idéias, mentalidades, decisões, julgamentos. Para todos nós é o primeiro leite intelectual”. CASCUDO (1952, p. 249) apud EDUARDO (2007, p. 12). Durante a contação, observa-se uma troca de saberes, as experiências vividas pelos mais velhos são repassadas as novas gerações, o que contribui para o desenvolvimento do ser humano.
Patrini (2005, p.60) apud BATISTA, (2007) apud Eduardo (2007) afirma que “apesar das inúmeras possibilidades ofertadas por uma sociedade pós-moderna, o homem tem necessidade de manter viva a oralidade”. Meireles parece concordar com a afirmação acima e acrescenta: “Conta-se e ouve-se para satisfazer essa íntima sede de conhecimento e instrução que é própria da natureza humana. Enquanto se vai contando, passam os tempos do inverno, passam as doenças e as catástrofes [...]” EDUARDO (2007) apud (MEIRELES, 1984, p.49). O negro, o índio, o príncipe, o camponês, o homem da cidade, cada um em seu lugar, por toda parte, desde sempre, estão contando o que ouviram, o que serviu a seus antepassados e o que vai servir a seus netos, durante suas vivências.
Silva, (1998, p.12) apud Eduardo (2007) fala também do quanto é importância da contação de histórias em todas as fases da vida.
                                                          
A história é importante alimento da imaginação. Permite a auto- identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajuda a resolver conflitos, acenando com a esperança. Agrada a todos, de modo geral, sem distinção de idade, classe social, de circunstância de vida (SILVA, 1998, p.12). apud EDUARDO (2007 p. 18).

 No momento da contação foi observado um interesse significativo por parte de alguns idosos, que apesar da idade se dispuseram ouvir os causos contrariando a idéia de que, pessoas de idade avançada não têm paciência e não gostam de ouvir causos e histórias e que essa atividade interessa em especial apenas o público infantil.  O ato de contar desperta interesse em todo ser humano independente da idade por fazer parte dele, por fazer parte da sua vida.
Como bem ressalta Sisto, (2005, p.26) apud Eduardo,(2007, p. 17) 
Quando abrimos os olhos, a vida se coloca à nossa frente. Inevitavelmente começamos a formar um repertório de histórias: a nossa história. Somos crianças e queremos o brinquedo, os bichos, outras crianças, o doce, a fantasia. Somos jovens e queremos a aventura, a ação, a prova, o desafio, o ato heróico, o primeiro amor, o riso. Somos adultos e queremos tudo. Somos velhos e queremos tudo de novo SISTO, (2005, p.26). apud EDUARDO (2007, p. 17).

Dentre as inúmeras possibilidades, a contação de histórias tem o mágico poder de lavar o indivíduo para diferentes lugares, conhecer outras culturas que não a sua, diminuindo assim, as distancias geográficas entre os diversos espaços. Ao ouvir uma história tem-se contato com diferentes povos, culturas espaços e outros elementos que permitem que a visão de mundo seja ampliada. E Dohme (2000) apud Eduardo (2007) comenta que:

As histórias aumentam o horizonte dos ouvintes, com elas: eles“conhecem a China”,“pisam na Lua”, voam através do tempo, da pré-história aos dias de hoje, travam  conhecimento com fadas, duendes, monstros e heróis. Estas emoções semeiam a imaginação e estimulam a criatividade (DOHME, 2000, p.20) apud EDUARDO (2007 p. 30).

Abramovich (2004, p.17) também fala dessas viagens pelo imaginário proporcionadas pelas histórias.
É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra época, outra ótica... É ficar sabendo história, geografia, filosofia, política, sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula. ABRAMOVICH (2004, p.17)

Após a apresentação, durante o dialogo com os idosos tivemos a oportunidade de ouvi-los e então sabermos um pouco da suas histórias de vida, pois foram suscitadas lembranças de fatos que os marcaram ao longo da vida. Sua terra de origem, os fatos ocorridos na infância, adolescência e juventude, os amores, a geografia da cidade onde nasceu, as pessoas do seu convívio no passado. E todos esses fatos sãos guardados na memória e ao revivê-los afloram sentimentos diversos como; alegria, tristeza, prazer nostalgia de coisas vividas que o tempo levou.
De acordo com Ferreira, (2007. p.11) apud Eduardo, (2007 p.18)

 As histórias marcam tanto as nossas vidas. As pessoas, em geral, zelam  por suas lembranças, sentem  prazer ao mergulhar no passado, em busca da presentificação dos antigos elos, das antigas relações, ainda que isso se dê apenas pela imaginação. Por essa razão folheiam-se os álbuns de família, riem-se risos de contentamento... e derramam-se lágrimas de saudades ou arrependimento (FERREIRA,2007. p.11) apud EDUARDO (2007p.18)

 Como afirma Abramovich, (2004, p. 17)
É ouvindo histórias que se pode sentir “também” emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo que as narrativa provoca em quem as ouve, toda amplitude e significância e verdade que cada uma faz ou não brotar ...pois é ouvir sentir e exercer com os olhos do imaginário;

As pessoas idosas são acometidas por doenças degenerativas, que muitas vezes tornam os limitados fisicamente e intelectualmente o que provoca sofrimentos tristezas e desilusões. A contação de histórias refrigera a alma e funciona como um anestésico para as dores e sofrimentos é como um isotônico que revigora trazendo um contentamento contagiante. Resgata essas pessoas de um mundo de melancolia para um mundo de alegria através do imaginário.
Senhoras idosas, limitadas pelos infortúnios da idade avançada, a segunda a cima sofreu um A.V.C. e está paralítica e a outra de vestido azul é cega.
Durante as conversação com os idosos foi observado que o mau humor, a inquietude e desanimo desapareceram o que comprova o quanto a socialização por meio da contação é importante para o ser humano.
Conversação com os idosos, um momento de descontração e alegria. Abramovich (2004, p.24) afirma que:

Ouvir histórias é um momento de gostosura de prazer, de divertimento dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... E ela é ou pode ser ampliadora de referênciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas, e mil maravilhas mais que uma boa história provoca. ABRAMOVICH (2004, p.24)     

Durante a contação de histórias o contador experimenta através das dinâmicas, das expressões corporais o lazer, pois sente prazer em se divertir permitindo que o conto se manifeste em todos os seus sentidos. Dessa forma, tanto contador quanto o público são tomados por sensações e vivências que lhe permite habitar o imaginário. Todos os envolvidos em uma contação de histórias têm a possibilidade de vivenciarem tudo que as mesmas proporcionam, e ou mesmo tempo valoriza e mantém a tradição oral.

3-CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contar histórias não é nunca uma opção ingênua
 É uma maneira de olhar o mundo.
Celso Sisto

É sabido que, devido aos avanços tecnológicos e consequentemente a evolução humana a arte de contar histórias vem aos poucos sendo esquecida e o ambiente acolhedor da cultura oral começa a desaparecer. O ato de contar histórias ganha na atualidade outras significações, porém não perde a sua principal função, pois ao dar som e imagem á palavra do conto, o contador de histórias tem o poder de reencantar o mundo, levar o outra para um mundo de sonho e fantasia quando convida-o a brincar com seus próprios pensamentos, possibilitando que este vivencie experiência de forma diversas, imagens que modificam a realidade de acordo com que o narrador lhe expõe e vive com ele o conto.
 Os estudos a cerca dessa temática foram de suma importância uma vez que, nos proporcionou uma visão diferenciada e mais ampla da importância dessa arte milenar. Respaldadas pelas analises e com as observações na prática essa aprendizagem se tornou significativa não só para a nossa formação acadêmica e profissional, mas pessoal e familiar, na medida em que nos possibilitou compreende-la e aplicá-la. Assim, percebe-se a importância de revigorar essa atividade primordial para o desenvolvimento do ser humano. 

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. 5º. ed. São Paulo: Scipione, 2004
EDUARDO, Shirlei Gomes. A marca individual do Contador de Histórias./Shirlei Gomes Eduardo. - 2007. Disponível em: www. rodadehistoria.com. br. Acesso em: 16 de Agosto de 2010.

                                                                                                        Barreiras, agosto de 2010


sexta-feira, 16 de março de 2012


Este projeto foi realizado no Lar Batista David Gomes, em 2010.

Fotos da peça "O macaco e a Onça", realizado em 2010.

"Essa apresentação vai mostrar da esperteza do macaco em relação a onça. O macaco por ser mais esperto, sempre vai levar vantagem em cima da coitadinha da onça."

quinta-feira, 15 de março de 2012



Os fantoches fazendo a festa da garotada!!!


Este foi um momento de interagir com as crianças antes da contação de história.

ERA UMA VEZ NO HOSPITAL: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

ERA UMA VEZ NO HOSPITAL: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Maria Felícia Romeiro Mota Silva[1]
Vera Regiane B. Nunes[2]
RESUMO:
Um hospital está longe de ser um local divertido, mas pode ser um local no qual se tenha crianças interessadas na leitura de uma boa história e de viajar em seu universo imagético. O presente artigo relata a experiência de atividades de leitura vivenciadas pelos acadêmicos e docentes do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia através do projeto de extensão universitária “Era uma vez no hospital: Contação de Historias” aplicado na ala pediátrica do Hospital do Oeste no município de Barreiras-Ba, com o intuito de proporcionar aprendizado e entretenimento através de leituras para crianças que estão em sistema de internação. Como metodologia, utiliza-se da dramatização para propiciar a atmosfera lúdica, além de leituras em grupo e individuais. São utilizados como recursos, fantoches, fantasias, músicas, livros infantis, maquiagens entre outros. As histórias inseridas neste contexto têm o intuito de amenizar o efeito doloroso do tratamento, além de promover a leitura e a reflexão da realidade, pois também acreditamos ser um direito do cidadão.
PALAVRAS – CHAVE: Conhecimento. Contação de historias. Crianças hospitalizadas. Interpretação textual. Leitura.

ABSTRACT:
A hospital is far from being a fun place, but can be a place that has children interested in reading a good story and travel the universe in its imagery. This article reports the experience of reading activities experienced by scholars and teachers of, University of Bahia through the university extension project “ Once upon a time in the hospital: storytelling” applied in the pediatric ward of the Hospital of West in the city of Barreiras-BA, in order to provide learning and entertainment through reading to children who are hospitalized. The methodology of the dramatization is used to provide a fun atmosphere of readings group and individual. They are used as resources, puppets, costumes, music, children´s books, makeup and more. The stories included in this context are intended to ease the painful effect of the treatment, in addition to promoting reading and reflection of reality, because we also believe that citizen has a right to it.
KEY-WORDS: Knowledge. Tell stories. Hospitalized children. Interpretation. Reading.

 1- INTRODUÇÃO
A promoção da leitura, é, portanto, um problema de todos. Passa pela família, pela escola, pela biblioteca, pela comunidade e pela sociedade. Não pode ser considerada um presente do Estado, posto que é um direito do cidadão.”
Clarice Fortkamp Caldin


O ato de contar histórias é uma das diversas formas encontradas para passar os conhecimentos adquiridos de uma geração para outra, visto que as histórias são relatos de experiências que trazem lições a partir das quais os mais novos continuam suas vivências, pode- se ainda  dizer que é uma forma  de possibilitar uma continuidade na evolução humana.
Num passado, havia mais espaço e tempo no seio da família para compartilhar as experiências e as vivências do dia-a-dia. Em muitos lares, após o jantar, todos se agrupavam ao redor do avô ou da avó, do pai ou da mãe, para ouvi-los falar sobre a história da família – e muitos tinham em seu meio um contador de  histórias, essa prática vem se perdendo. A contação de histórias está presente na cultura humana desde os tempos antigos, como; conhecimento, arte, prazer, fruição, atividade de lazer, que permite a manifestação lúdica levando o ouvinte para o mundo do sonho e da fantasia, permite ampliar pontos de vista sobre a realidade, viver infinitas experiências e emocionar de diferentes maneiras.
A importância de contar histórias vai muito além do entretenimento, por meio delas se enriquece as experiências infantis e desenvolvem diversas formas de linguagem, amplia o vocabulário, ajuda na formação do caráter, e no desenvolvimento da confiança e do imaginário. Além disso, as histórias estimulam o desenvolvimento de funções cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação (entre as figuras e o texto lido ou narrado, por exemplo), a construção do pensamento hipotético, o raciocínio lógico, pensamento divergente ou convergente, as relações espaciais e temporais a partir das interpretações realizadas.
A forma que se lê um livro para alguém, dá a este a chance de poder “viajar sem sair do lugar”, uma viagem imagética e lúdica em que o ouvinte ou leitor embarca. Pensando nisto, o projeto “Era uma vez no hospital” tem um intuito de reviver esta forma de expressão artística e motivar fantasias vividas por meio das imagens e emoções suscitadas nas histórias. O contador de historias é o personagem central que dá a sua interpretação da narrativa, dá vida ao texto e possibilita aos que ouvem a ressignificação textual a partir das interpretações realizadas do universo humano. O público alvo desta proposta são os pacientes da Ala Pediátrica do Hospital do Oeste em Barreiras-Ba. 
As crianças e adolescentes que estão na condição de internamento ficam frágeis e impossibilitadas de realizarem atividades que sempre gostam de fazer como correr, esconder, pular, brincar, mas não estão impedidas de percorrer no mundo imagético das histórias e poesias. Um hospital não é um local de divertimento, mas, pode ser um local no qual se tenha criança interessadas na leitura e no conhecimento que um livro proporciona.
A hospitalização causa medo e sofrimento, muitas vezes intensos, que podem afetar a integridade emocional dos pacientes e dos familiares. O enfadonho período de internação hospitalar é um dos piores acontecimentos para uma criança, pois além de afastá-la de sua família e escola, também torna distante o contato com o seu íntimo-imaginário. Os pacientes internados ficam muito tempo ansiosos com o tratamento, além do o tédio e a inquietação por conta do  tempo ocioso. As histórias inseridas neste contexto têm como objetivo aliviar a ansiedade do período do internamento, além de incentivar a reflexão da realidade por meio da leitura de gêneros diversos.
2. REVISÃO LITERÁRIA
O ato de contar histórias é uma manifestação que acompanha o homem desde sua origem. O impulso de contar história pode ter nascido no homem, no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia ter significação para todos. As gravações em pedras nos tempos das cavernas, por exemplo, são registros de narrações; a bíblia sagrada é um livro que abrange diversas narrativas, filosofia, dogmas e as origens do povo cristão transmitidos por gerações; a diversidade de filmes, animações e telenovelas nos mostra como o ser humano vêm reinventando a forma de produzir e contar histórias. Como se observa o hábito de contar histórias acompanha o homem desde os tempos mais remotos e continua até os nossos dias.
 O narrador se forma naturalmente contando e vendo os outros falarem de suas experiências e assim, adquire-se aos poucos um repertório de histórias que mais tarde irá narrar a outros membros da comunidade. Antigamente, o ato de contar histórias acontecia no fim da tarde e nos momentos em que membros da comunidade se reuniam para contar os acontecimentos do dia-a-dia. Ouvir uma história, contá-la e recontá-la durante muitos anos, foi a maneira que muitos povos encontravam em preservar os seus valores e a coesão de uma determinada comunidade, além de passar às gerações futuras os saberes de um povo. CALDIN (2002)
O contador possibilita ao ouvinte o acesso às histórias, fazendo com que ele viva as emoções proporcionadas por elas. O leitor/ouvinte ao interpretar os conflitos e dificuldades que vão sendo enfrentados pelos personagens fictícios estabelece conexões com a sua realidade. Como ressalta Abramovich (2004, p.17):

É ouvindo histórias que se pode sentir “também” emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo que as narrativas provocam em quem as ouve, toda amplitude e significância e verdade que cada uma faz ou não brotar [...], pois é ouvir sentir e exercer com os olhos do imaginário.

O ser humano tem necessidades de viver experiências fora do mundo real, pois é no mundo da fantasia e do imaginário que o sujeito vivencia outras experiências e satisfaz muitos de seus desejos, isso o torna mais fortes e com maior capacidade de reflexão. Dessa forma percebe-se que ao entrar no mundo do faz-de-conta, proporcionado pela contação, independentemente do gênero, conto, piada ou mesmo um poema, o ouvinte/leitor tem a chance de fazer uma nova leitura do mundo real. CADERMATORI (1991)
É a ausência de regras impostas que dá à imaginação a característica de um mundo sem fronteiras, possibilita articular idéias que vão além do raciocínio lógico e nos permite a percepção do que antes era desconhecido. Assim, é possível dizer que o contador de histórias tem grande importância para o desenvolvimento humano em todas as suas fases, pois, em todos os momentos da vida experimenta diversas possibilidades oferecidas pelas histórias. BENJAMIN (1994)
O viver humano é preenchido por suas experiências que dão significado à sua presença no mundo. É esse viver e o fato de estar inserido socialmente que o possibilitou se relacionar com seu ambiente, elaborando as diversas culturas proporcionadas pelas formas de relações estabelecidas e com os diferentes espaços. É pela reconstrução de significado da realidade que o sujeito foi atribuindo a ficção em suas ações, conservadas pelas narrativas.
É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra época, outra ótica... É ficar sabendo história, geografia, filosofia, política, sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula. ABRAMOVICH (2004, p.17) 

Ler ou contar histórias para as crianças, é suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, e encontrar muitas idéias para solucionar questões. Para Abramovich (2004) é a partir de histórias simples, que a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real.
Ao ouvir uma história tem-se contato com diferentes povos, culturas espaços e outros elementos que permitem que a visão de mundo seja ampliada. Um dos elos é o contador de historias que provoca o ouvinte para que com ele vivencie emoções. Decorre da leitura também a postura crítico-reflexiva que é extremamente relevante na formação cognitiva das crianças. 
O primeiro contato da criança com um texto é feito oralmente. É pela voz do adulto, geralmente a mãe e o pai, que ela entra em contado com as histórias infantis.  Contribuindo algumas vezes para formar poetas e escritores que descobriram no decorrer de sua vida que seu amor à literatura e, mesmo, muitas de suas poesias e de seus contos tiveram o seu nascedouro já na sua primeira infância. Partindo deste pressuposto, quanto mais cedo a criança tiver contatos com livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior é a probabilidade de nela nascer o amor aos livros.
A contação de histórias hoje faz parte das atividades relacionadas a comunicação, a cultura, a informação, e ao lazer,  pois, elas também buscam proporcionar valores, prazer, fantasia, criação, ludicidade e conhecimento. É preciso que se tome consciência da importância desses elementos na formação do sujeito social.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto “Era uma vez no hospital: contação de historias” é realizado na Clínica Pediátrica do Hospital do Oeste (HO) situado em  Barreiras-Ba. O HO é público estadual e se dedica aos usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, atende toda a região do Oeste da Bahia que engloba 36 municípios. São no total 204 leitos, destes 29 distribuídos nas emergências (adulto, pediátrica e obstétrica) e 175 para  internação, distribuídos em: 24 leitos de UTI (neonatal, adultos e pediatria), 15 de cuidados intermediários de neonatal, 10 da unidade de queimados, 31 de clínica médica, 31 de clínica cirúrgica, 34 de clínica pediátrica e 30 de clínica obstétrica.[3]
A primeira edição do projeto “Era uma vez no hospital: contação de historias” teve carga horária de 100 horas divididas em: grupo de  estudos teóricos para discussão sobre narrativas e técnicas para contação de histórias baseados em pesquisas bibliográficas; observação do ambiente hospitalar e clientela; seleção e confecção de material; ensaios e apresentações.
Antes de começar a contação no hospital, é feito o convite nos quartos do pacientes para a participação da atividade de leitura que sempre é realizada na Brinquedoteca que fica dentro da Clínica Pediátrica do Hospital do Oeste, o ambiente de contação é preparado pelos acadêmicos/monitores e pelas coordenadoras do projeto.  As crianças que não tem condições de locomoção são transportadas até o ambiente de cadeira de rodas ou em seus próprios leitos. Somente ficam impossibilitadas de participar da atividade as crianças que estão no isolamento por grande risco de contaminação.  Por opção do grupo de contadores, não é feita nenhuma atividades nos quartos, e não se pergunta detalhes das enfermidades para não constranger e nem invadir a intimidade do paciente. Antes das apresentações, os acompanhantes dos enfermos assinam o Termo de Livre Consentimento esclarecido conforme determinação da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde[4].
Cada sessão dura em média 30 minutos, dividida em dois momentos: contação ou performance teatral e retorno da platéia (discussão das impressões causadas pelo texto através da verbalização das crianças). Os recursos materiais utilizados nas apresentações são diversos, a depender da história apresentada: livros de literatura infantil, música, balões, fantoche, maquiagem,  data-show, violão, entre outros. Após a contação as crianças internadas são presenteadas com livros. As sessões são realizadas aos sábados para um público médio de 25 pessoas (crianças enfermas, acompanhantes e profissionais de saúde).

4. RESULTADOS

Este projeto surgiu a partir das discussões propostas pelas disciplinas Literatura Infanto-juvenil e Seminário Interdisciplinar de Pesquisa ministradas no curso de Letras do Campus IX da UNEB. Houve uma necessidade de extrapolar a discussão teórica e de efetivamente promover momentos de leitura na comunidade. Inicialmente foi feita uma pesquisa exploratória (hospital, creches, asilo, orfanato) com entrevista e realização de contação para saber qual o público alvo que se pretendia atuar. Verificou-se que o grupo mais carente de atividade que promovem a leitura foi o hospital. A partir de posse destes dados iniciais e com o desejo da turma de ir além da carga horária disponibilizada pelas disciplinas deu-se início ao projeto de extensão “Era uma vez no hospital: contação de historias”.
O projeto foi levado à diretoria do hospital e a enfermeira chefe responsável pela clínica pediátrica aceitou muito bem a proposta humanizada de trato ao paciente.  Como já foi mencionado, é disponibilizado ao grupo de contadores o espaço da Briquedoteca para a realização das atividades de contação. Antes das atividades a equipe de contadores recebeu orientações sobre o trato com paciente, questões éticas, higienização antes e após das atividades nas dependências do hospital. A enfermeira chefe salientou também sobre a dificuldade inicial que a equipe pode encontrar no que diz respeito à questão emocional ao deparar com alguns casos de pacientes.
As Contações de Histórias, em sua primeira edição, foram realizadas após as primeiras medicações e o café da manhã (aproximadamente às 09:00) com término antes do horário da segunda medicação (10:00). O tempo médio de permanência do grupo no ambiente hospitalar é de duas horas, sendo que destinadas a contação é de somente 30 a 40 minutos o tempo restante é destinado na preparação do ambiente. Verificou-se que as historias de longa duração acabam cansando e dispersando as crianças, principalmente as menores de 05 anos. O fato de estarem enfermas e presas a soro, sondas, gesso..., algumas vezes sentindo dores ou sonolentas as deixa um pouco desconfortáveis para ficarem muito tempo sentadas. O ideal é que apresente narrativas curtas, com tempo para fazer a interação com a platéia.
O contador precisa atentar para a situação do público para criar novas formas de  motivação. É importante não esquecer que se trata de uma plateia não convencional, que a princípio se mostra apática por conta da patologia ou da medicação. A interação é  um pouco dificultada também por não reconhecer, no primeiro estante, que o hospital pode ser espaço para realizar diversas leituras.  Apesar da alta rotatividade da clientela, pode-se considerar que o pequeno trabalho de conscientização da promoção da leitura de textos de gêneros diversos (conto, piada, cinema, teatro, poema, música...) e o reconhecimento da  importância social destes obtiveram êxito. Para Caldin (2011,p. 05 )  

A leitura implica uma interpretação – que é em si mesma uma terapia, posto que evoca a idéia de liberdade – pois permite a atribuição de vários sentidos ao texto. O leitor rejeita o que lhe desgosta e valoriza o que lhe apraz, dando vida e movimento às palavras, numa contestação ao caminho já traçado e numa busca de novos caminhos.

Enfatizou-se para as crianças e seus acompanhantes que a leitura, seja como forma de reflexão ou como forma de entretenimento, faz parte da sociedade e não pode ser encarada como uma atividade exclusiva da escola. A distribuição dos livros após as apresentações do grupo vem reforçar essa ideia. Neste momento é possível perceber na maioria dos casos, o encantamento das crianças com o livro, o desejo de folheá-lo e conhecer as histórias.
Mesmo com pouco tempo no hospital para a realização do trabalho, é possível perceber a pequena mudança de estado de humor dos pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde, após as performances de leitura, uma vez que as narrativas favorecem o envolvimento emocional. Observou-se que o fator emocional é importante na reabilitação dos pacientes, segundo o depoimento das enfermeiras, as crianças enfermas reagem melhor ao tratamento quando saem de um estado depressivo e melhoram a sua auto-estima proporcionada pela atividade lúdica.  Sobre essa questão Caldin (2011, p. 13) acrescenta que “a leitura, ao favorecer a introspecção, leva o indivíduo a refletir sobre os seus  sentimentos – o que é terapêutico, pois sempre desponta a possibilidade de mudança comportamental.”  
O estímulo para a leitura deve começar na infância quando as crianças passam a gostar de palavras e de ouvir histórias, além de animarem-se ao contar momentos de sua vida para pessoas próximas. Lajolo e Zilberman (1985) argumentam que a leitura favorece o desenvolvimento crítico. Abramovich (2004, p. 20) concorda quando afirma que, “ouvir e ler histórias [...] é poder pensar, duvidar, se perguntar, questionar [...], é se sentir inquieto, cutucado, querendo saber mais e melhor ou percebendo que se pode mudar de idéia”.
Dessa forma, podemos afirmar que o ato de contar histórias além de ser uma atividade inerente ao ser humano é essencial para a sua formação como indivíduo construtor do próprio conhecimento, de sua própria formação intelectual e social. Ao dar som e imagens à palavra da historia, o contador tem o poder de reencantar o mundo, levar o outro para o mundo da fantasia quando o convida a brincar com seus próprios pensamentos, possibilitando que este vivencie experiências de formas diversas. De acordo com Coelho (2000, p. 53) as histórias infantis “tem a capacidade de provocar a emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o interesse da criançada”.
A proposta de trabalho e pesquisa proporcionou uma “reabilitação” também no grupo de contadores, à medida que os acadêmicos iam criando estratégias para relacionar a teoria estudada sobre formação de leitores adaptada à  situação do ambiente  hospitalar, foi também evoluindo a percepção dos estudantes da função social da leitura. Este tipo de atividade prática caracteriza-se como um momento de análise crítica da realidade, constituindo-se um elemento complementar ao conhecimento teórico, necessário à formação profissional universitária.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contar e ouvir histórias são atividades que, antes de instruir, divertem e proporcionam um ambiente de descontração e igualdade. Possibilita que o ouvinte e o cantador criem sua história a partir das próprias experiências, alimenta o imaginário e desenvolve a faculdade de representação por meio de uma viagem em que o contador é o protagonista que conduz o público a viver, com ele, diversas experiências. Dessa forma, o ouvinte é co-autor da história e tem sua experiência interna respeitada, pois pode construir as imagens da história e desfrutar dessa vivencia à sua maneira.
A contação de histórias é um importante instrumento, pois torna possível  conhecer histórias muitas delas  transmitidas de geração a geração.  As histórias ficcionais, quer seja narrada através de recursos tecnológicos, quer seja contada de uma maneira mais simples, são primordiais para crescimento do indivíduo, principalmente quando  se encontra debilitado físico e emocionalmente, internado em hospitais.
Redescobrir antigos valores é importante para humanizar o mundo de nossos dias. A magia de contar histórias pode e deve permanecer independente das outras possibilidades midiáticas que surgem a todo instante. A história estimula o imaginário e faz com que a criança conheça lugares jamais imaginados. A criança quando hospitalizada se depara com uma realidade de dor e solidão, é nessa hora que a história é importante, porque vai alegrar e amenizar um pouco do sofrimento, da dor, e da solidão presentes no hospital. As histórias têm o poder de promover alento, alívio das tensões e ansiedades, aumento da auto-estima, fatores que auxiliam na melhora do quadro clínico, além de proporcionar uma série de conhecimentos para todos os envolvidos. O projeto “Era uma vez no hospital: contação de historias” com suas apresentações transmitem durante pelo menos trinta minutos semanais uma viagem ao imaginário.

6. REFERÊNCIAS

ABROMOVICH, Fany. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2004.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos: resolução nº 196/96. Brasília: Conselho Nacional de Saúde, 1996.
CADEMARTORI, Lígia. O que é Literatura Infantil. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
CALDIN, Clarice F. A oralidade e a escritura na literatura infantil: referencial teórico para a hora do conto. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/pdf/147/14701304.pdf.  Acesso em 30/04/10.
CALDIN, Clarice F. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. Disponível em: www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/download/36/5200. Acesso: 30/04/10.
COELHO, Nelly. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAM, Regina. Literatura infantil brasileira. São Paulo: Ática, 1985.


[1] Graduada em Letras e Especialista em Estudos Línguísticos: Leitura e Produção de Textos pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Atua como docente nos cursos de Letras da Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira e da Universidade do Estado da Bahia, e coordena o Projeto de Extensão “Era uma vez no Hospital”. clarafelicia@yahoo.com.br 

[2] Graduada em Pedagogia,  Especialista em Arte-Educação e Mestranda em História pela Universidade Católica de Goiás. Atua como docente no curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia  e coordena o projeto de Extensão “ Era uma vez no Hospital”.
[3] Dados fornecidos pelo Hospital do Oeste – Barreiras-Ba
[4] BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos: resolução nº 196/96. Brasília: Conselho Nacional de Saúde; 1996.