quinta-feira, 22 de março de 2012

Contação de Histórias no Abrigo dos Idosos

Idelvânia Ferreira Amador
Joao Plácido da Silva Filho
Maria Lúcia Silva de Souza
Norma da Silveira Lopes
Wagner Araújo Novais



Contação de Histórias no Abrigo dos Idosos


1-INTRODUÇÃO:

A atividade de contar história está presente na cultura humana desde os tempos antigos, como; conhecimento, arte, prazer, atividade de lazer, que permite a manifestação lúdica levando o ouvinte para o mundo do sonho e da fantasia, nos permite ampliar nossos pontos de vista sobre a realidade, viver infinitas experiências e nos emocionar de diferentes maneiras.
O ato de contar histórias era uma das formas encontradas para passar os conhecimentos adquiridos de uma geração para outra. Visto que as histórias eram relatos de experiências que traziam lições a partir das quais os mais novos continuariam suas vivências, pode se dizer também que era uma forma de possibilitar uma continuidade na evolução humana.
Com o advento da escrita e o desenvolvimento tecnológico percebe-se uma grande diminuição do hábito de trocar experiências oralmente e uma predominância do desenvolvimento de outras formas de transmissão desses conhecimentos e configurando-se com a sociedade contemporânea, quando a escrita e oralidade se complementam na evolução do homem.
Assim, o desenvolvimento tecnológico e dos meios de comunicação convidam o narrador a buscar uma forma para lidar com o desenvolvimento natural do ser humano e percebe-se, então, uma nova manifestação desse personagem da cultura oral, que agora se forma para contar histórias.
Nota-se que aos poucos os momentos coletivos de trocas de experiências deixam de ser um acontecimento natural em nossa sociedade. Com as transformações e o desenvolvimento tecnológico os contadores foram aos poucos convivendo e encontrando novas formas de lidar com o processo natural de evolução da humanidade, assim, essa tradição juntamente com seus protagonistas “narradores, contadores” transforma e se modifica com o passar do tempo.
Por isso, o contador é o personagem principal na manutenção desse patrimônio, pois ao dar seu testemunho narrando uma história, ele da aos que ouvem a possibilidade de contá-la novamente e, assim permitir que essa cultura acompanhe as transformações humanas.
Esse processo de ressignificação, ao fazer-se presente no contador de histórias permite que a cultura popular seja valorizada e se mantenha na atualidade. Com esse intuito é que escolhemos o abrigo de idosos São João Batista  para a apresentação de nossos trabalhos. Onde foi apresentada em 30/08/10 às 14:40 h da tarde a peça Causos e Contos Caipira. Com o objetivo de reviver esta forma artística de comunicação no contexto da atualidade, para abrir novos horizontes e possibilitar a memória dos velhos tempos; motivar fantasias vividas por meio das imagens e emoções suscitadas no conto. Bem como proporcionar lazer e entretenimento aos idosos através da contação de histórias, fazendo com que a sua cultura seja valorizada e mantida na atualidade.

2- RELATOS
Foi apresentada peça, Causos e Contos Caipira para um de platéia de 12 idosos do abrigo São João Batista na cidade de Barreiras BA no dia 30/08/10 às 14:40 h da tarde pelos acadêmicos do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia; Idelvânia Ferreira Amador, João Plácido da Silva Filho, Maria Lúcia silva de Souza, Norma da Silveira Lopes, Vagner Araújo Novais,  que fazem parte do projeto Contadores de Histórias, sob orientação da professora Maria Felícia Romeiro Mota.
Na peça os acadêmicos dramatizaram de forma bem humorada o ato de contar histórias trazendo para o enredo causos e histórias do cotidiano caipira demonstrando de forma lúdica e divertida o quanto é prazeroso a contação de histórias e o quanto é importante à troca de experiências por meio dessa forma milenar de comunicação.

 A dramatização da peça.
De acordo com Cascudo (1952, p.249) apud Eduardo (2007, p. 12).“O conto popular revela informação histórica, etnográfica, sociológica, jurídica, social. É um documento vivo, denunciando costumes, idéias, mentalidades, decisões, julgamentos. Para todos nós é o primeiro leite intelectual”. CASCUDO (1952, p. 249) apud EDUARDO (2007, p. 12). Durante a contação, observa-se uma troca de saberes, as experiências vividas pelos mais velhos são repassadas as novas gerações, o que contribui para o desenvolvimento do ser humano.
Patrini (2005, p.60) apud BATISTA, (2007) apud Eduardo (2007) afirma que “apesar das inúmeras possibilidades ofertadas por uma sociedade pós-moderna, o homem tem necessidade de manter viva a oralidade”. Meireles parece concordar com a afirmação acima e acrescenta: “Conta-se e ouve-se para satisfazer essa íntima sede de conhecimento e instrução que é própria da natureza humana. Enquanto se vai contando, passam os tempos do inverno, passam as doenças e as catástrofes [...]” EDUARDO (2007) apud (MEIRELES, 1984, p.49). O negro, o índio, o príncipe, o camponês, o homem da cidade, cada um em seu lugar, por toda parte, desde sempre, estão contando o que ouviram, o que serviu a seus antepassados e o que vai servir a seus netos, durante suas vivências.
Silva, (1998, p.12) apud Eduardo (2007) fala também do quanto é importância da contação de histórias em todas as fases da vida.
                                                          
A história é importante alimento da imaginação. Permite a auto- identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajuda a resolver conflitos, acenando com a esperança. Agrada a todos, de modo geral, sem distinção de idade, classe social, de circunstância de vida (SILVA, 1998, p.12). apud EDUARDO (2007 p. 18).

 No momento da contação foi observado um interesse significativo por parte de alguns idosos, que apesar da idade se dispuseram ouvir os causos contrariando a idéia de que, pessoas de idade avançada não têm paciência e não gostam de ouvir causos e histórias e que essa atividade interessa em especial apenas o público infantil.  O ato de contar desperta interesse em todo ser humano independente da idade por fazer parte dele, por fazer parte da sua vida.
Como bem ressalta Sisto, (2005, p.26) apud Eduardo,(2007, p. 17) 
Quando abrimos os olhos, a vida se coloca à nossa frente. Inevitavelmente começamos a formar um repertório de histórias: a nossa história. Somos crianças e queremos o brinquedo, os bichos, outras crianças, o doce, a fantasia. Somos jovens e queremos a aventura, a ação, a prova, o desafio, o ato heróico, o primeiro amor, o riso. Somos adultos e queremos tudo. Somos velhos e queremos tudo de novo SISTO, (2005, p.26). apud EDUARDO (2007, p. 17).

Dentre as inúmeras possibilidades, a contação de histórias tem o mágico poder de lavar o indivíduo para diferentes lugares, conhecer outras culturas que não a sua, diminuindo assim, as distancias geográficas entre os diversos espaços. Ao ouvir uma história tem-se contato com diferentes povos, culturas espaços e outros elementos que permitem que a visão de mundo seja ampliada. E Dohme (2000) apud Eduardo (2007) comenta que:

As histórias aumentam o horizonte dos ouvintes, com elas: eles“conhecem a China”,“pisam na Lua”, voam através do tempo, da pré-história aos dias de hoje, travam  conhecimento com fadas, duendes, monstros e heróis. Estas emoções semeiam a imaginação e estimulam a criatividade (DOHME, 2000, p.20) apud EDUARDO (2007 p. 30).

Abramovich (2004, p.17) também fala dessas viagens pelo imaginário proporcionadas pelas histórias.
É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra época, outra ótica... É ficar sabendo história, geografia, filosofia, política, sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula. ABRAMOVICH (2004, p.17)

Após a apresentação, durante o dialogo com os idosos tivemos a oportunidade de ouvi-los e então sabermos um pouco da suas histórias de vida, pois foram suscitadas lembranças de fatos que os marcaram ao longo da vida. Sua terra de origem, os fatos ocorridos na infância, adolescência e juventude, os amores, a geografia da cidade onde nasceu, as pessoas do seu convívio no passado. E todos esses fatos sãos guardados na memória e ao revivê-los afloram sentimentos diversos como; alegria, tristeza, prazer nostalgia de coisas vividas que o tempo levou.
De acordo com Ferreira, (2007. p.11) apud Eduardo, (2007 p.18)

 As histórias marcam tanto as nossas vidas. As pessoas, em geral, zelam  por suas lembranças, sentem  prazer ao mergulhar no passado, em busca da presentificação dos antigos elos, das antigas relações, ainda que isso se dê apenas pela imaginação. Por essa razão folheiam-se os álbuns de família, riem-se risos de contentamento... e derramam-se lágrimas de saudades ou arrependimento (FERREIRA,2007. p.11) apud EDUARDO (2007p.18)

 Como afirma Abramovich, (2004, p. 17)
É ouvindo histórias que se pode sentir “também” emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo que as narrativa provoca em quem as ouve, toda amplitude e significância e verdade que cada uma faz ou não brotar ...pois é ouvir sentir e exercer com os olhos do imaginário;

As pessoas idosas são acometidas por doenças degenerativas, que muitas vezes tornam os limitados fisicamente e intelectualmente o que provoca sofrimentos tristezas e desilusões. A contação de histórias refrigera a alma e funciona como um anestésico para as dores e sofrimentos é como um isotônico que revigora trazendo um contentamento contagiante. Resgata essas pessoas de um mundo de melancolia para um mundo de alegria através do imaginário.
Senhoras idosas, limitadas pelos infortúnios da idade avançada, a segunda a cima sofreu um A.V.C. e está paralítica e a outra de vestido azul é cega.
Durante as conversação com os idosos foi observado que o mau humor, a inquietude e desanimo desapareceram o que comprova o quanto a socialização por meio da contação é importante para o ser humano.
Conversação com os idosos, um momento de descontração e alegria. Abramovich (2004, p.24) afirma que:

Ouvir histórias é um momento de gostosura de prazer, de divertimento dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... E ela é ou pode ser ampliadora de referênciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas, e mil maravilhas mais que uma boa história provoca. ABRAMOVICH (2004, p.24)     

Durante a contação de histórias o contador experimenta através das dinâmicas, das expressões corporais o lazer, pois sente prazer em se divertir permitindo que o conto se manifeste em todos os seus sentidos. Dessa forma, tanto contador quanto o público são tomados por sensações e vivências que lhe permite habitar o imaginário. Todos os envolvidos em uma contação de histórias têm a possibilidade de vivenciarem tudo que as mesmas proporcionam, e ou mesmo tempo valoriza e mantém a tradição oral.

3-CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contar histórias não é nunca uma opção ingênua
 É uma maneira de olhar o mundo.
Celso Sisto

É sabido que, devido aos avanços tecnológicos e consequentemente a evolução humana a arte de contar histórias vem aos poucos sendo esquecida e o ambiente acolhedor da cultura oral começa a desaparecer. O ato de contar histórias ganha na atualidade outras significações, porém não perde a sua principal função, pois ao dar som e imagem á palavra do conto, o contador de histórias tem o poder de reencantar o mundo, levar o outra para um mundo de sonho e fantasia quando convida-o a brincar com seus próprios pensamentos, possibilitando que este vivencie experiência de forma diversas, imagens que modificam a realidade de acordo com que o narrador lhe expõe e vive com ele o conto.
 Os estudos a cerca dessa temática foram de suma importância uma vez que, nos proporcionou uma visão diferenciada e mais ampla da importância dessa arte milenar. Respaldadas pelas analises e com as observações na prática essa aprendizagem se tornou significativa não só para a nossa formação acadêmica e profissional, mas pessoal e familiar, na medida em que nos possibilitou compreende-la e aplicá-la. Assim, percebe-se a importância de revigorar essa atividade primordial para o desenvolvimento do ser humano. 

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. 5º. ed. São Paulo: Scipione, 2004
EDUARDO, Shirlei Gomes. A marca individual do Contador de Histórias./Shirlei Gomes Eduardo. - 2007. Disponível em: www. rodadehistoria.com. br. Acesso em: 16 de Agosto de 2010.

                                                                                                        Barreiras, agosto de 2010


Um comentário:

  1. Bom dia. Sou professora e estamos desenvolvendo um projeto de contação de histórias para duas casas de acolhida ao idoso, mas tenho encontrado dificuldades em encontrar textos/histórias para contar para eles. A grande maioria dos textos que encontrei são voltados para o público jovem. Gostaria de saber se existe a possibilidade de vocês disponibilizarem a peça Causos e Contos Caipira para que eu leve essa experiência bem sucedida de vocês aos velhinhos aqui de Vitória-ES.
    Ficaria muito feliz em poder levar algo que traga um momento de alegria e descontração à eles.
    Também aceito outras sugestões, kkkk.
    Obrigada.
    Rosimere Rossoni

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